Assim como o personagem Jericho Cross, que protagoniza "Darkwatch", a produtora que o criou também teve uma trajetória conturbada: o projeto foi iniciado pela Sammy americana, que se tornou independente depois que a matriz resolveu reduzir o número de funcionários nos EUA. Rebatizada de High Moon Studios, a estréia da nova fase da produtora aconteceu com um game competente, fugindo dos lugares-comuns que cercam os jogos de tiro em primeira pessoa.
Nada de guerras contemporâneas, marcianos ou batalhas futuristas - apesar de haver referências, propositais ou não, a títulos como "Halo" ou "Medal of Honor". "Darkwatch" mistura com equilíbrio cenas de ação e tiroteios, além de implementar um sistema sólido de controles e recriar alguns paradigmas do gênero, com algumas cenas sobrenaturais.
O vampiro e o chapéu
Logo pela apresentação, você verá que o clima do jogo é diferente, com uma temática pouco usual aos games de tiro em primeira pessoa. O cenário é o Arizona do século 19, em plena expansão americana para o Oeste. Acrescente a isso pitadas de temas góticos, haja visto que o protagonista, em sua rotina de ilegalidades, libera, num roubo a um trem, um espírito maligno de nome Lazarus e acaba por transformar-se numa criatura da noite.
Essa cena serve justamente como tutorial, ensinando os controles básicos do protagonista, ainda sem seus poderes sobrenaturais. A primeira impressão é a de um game de ritmo veloz, ótima fluência de tela e controles que parecem precisos. De fato, nem que cheguem perto de um game de PC, os comandos estão entre os melhores de que se têm notícia nos videogames, ao lado de expoentes como "Halo" ou "TimeSplitters".
Além de totalmente configuráveis, os comandos são rápidos e precisos, graças à ótima calibragem dos direcionais analógicos. Além disso, ajuda o fato de a mira ter certa automatização, principalmente em distâncias mais próximas. É uma impressão bem diferente da encontrada nos títulos citados acima, mas proporcionam confrontos emocionantes. Um dos poucos pontos negativos é que o sistema de colisão com os cenários é um pouco rigoroso, e o personagem fica "preso" com bobagens, de vez em quando.
Mas os elementos de ação, como os ataques chamados de "melee", de curta distância, têm grande importância. Primeiro, porque os tiros são um pouco escassos, principalmente para as armas mais poderosas. Depois, esses ataques são devastadores, matando os inimigos mais fracos com apenas um golpe. O game limita o porte de armas: são apenas dois tipos por vez, além de dinamites para explodir oponentes ou certos bloqueios que, geralmente, escondem acesso à áreas secretas.
As armas são de época, com toques góticos, adornadas com lâminas e detalhes pontiagudos para causar mais dor aos oponentes e satisfação ao jogador. No arsenal há revolveres, carabinas e até uma besta com flechas explosivas, de efeito retardado. Na versão para PlayStation 2, há uma granada especial chamada de Splitters.
Sou horrível
O diferencial de "Darkwatch" com seus pares é a presença de poderes especiais. Jericho, depois de virar um vampiro, tem o poder de quase voar, visto que seu salto ganha alturas sobre-humanas. Além disso, tem uma visão especial, que torna tudo vermelho, mas destaca elementos-chave, como objetos e inimigos, além do zoom que facilita acertar o alvo. Também se tem a impressão que a ação corre mais devagar.
Apesar de todas essas facilidades, os inimigos são bem inteligentes e usam estratégias para atacar em bolo ou cercar o jogador, ou seja, há claramente uma programação que lança mão de ataques coordenados. Assim, o jogador precisará contra-atacar na mesma moeda, protegendo suas costas e combatendo em locais onde possa se esconder. Claro que a inteligência tem um limite e muitas vezes você perceberá que truques manjados, como ajustar a visão a fim de revelar apenas parte do oponente e atingir nesses locais, funcionam com regularidade.
Os inimigos são diversos, todos de morto-vivos - em outras palavras, espere encontrar muitas mutilações e sangue. Os danos são sensíveis ao local atingido: acerte um braço e ele será arrancado e um golpe na cabeça pode explodir o cérebro ou separá-lo do corpo por completo. A classificação etária "M" (maiores de 17 anos) também foi aproveitada para introduzir cenas mais sensuais com Tala, uma personagem usada na edição da Playboy americana, numa matéria sobre videogames que também contou com outra vampira, Rayne, de "BloodRayne".
O sistema de danos é bastante inteligente. Além da sua energia, existe uma proteção que se recupera com o tempo. Apenas quando esta é zerada a energia começa a ficar exposta. Por isso, a estratégia mais acertada é achar um local onde se possa se proteger enquanto o escudo está gasto. É um pouco parecido com "Halo 2", com a diferença que a energia perdida não é recuperada com o tempo e sim por itens, que são abundantes, pelo menos na dificuldade normal. Nem por isso se trata de um game fácil, pois alguns ataques em seqüência são suficientes para varrer todos os seus medidores.
Salvar ou não salvar? Eis a questão
Jericho também tem quatro poderes vampirescos, obtidos ao encontrar pessoas à beira da morte, presas numa espécie de crucifixo. Aqui aparece um sistema de índole, como aquele encontrado no RPG "Star Wars: Knights of the Old Republic", para Xbox, mas bem simples. Resumindo, o jogador precisa escolher se quer fazer uma boa ou má ação em relação ao condenado. Dependendo da opção, os poderes e caminhos variam. No caso, a sugestão é não se dividir, sempre mantendo a mesma opção até o final do jogo. O lado escolhido influencia pouco na rota do jogo e os poderes são praticamente similares. O final do game é múltiplo, mas depende de uma escolha crucial nas partes derradeiras da aventura.
A aventura principal é bastante robusta e, devido a sua diversão, parece ser mais curta que o desejado. Gastam-se cerca de dez horas para terminar o modo de um jogador. O valor de replay fica pela curiosidade em ver os poderes do outro lado, além de escolher um novo final. A versão para PlayStation 2 conta com uma fase extra, dentro de um trem.
Durante todo o jogo, a ação é bem intensa. Muitas batalhas podem ser vencidas com força bruta, mas há locais específicos em que se faz uso de um pouco mais de estratégia. Além disso, há cenas em que é preciso realizar pequenas missões. O ritmo é quebrado - até demais - com a introdução de diversas cenas não-interativas. Há fases em que se avança montado em cavalos ou em outros tipos de veículos, um legítimo bangue-bangue no deserto do Arizona. Apesar de divertidas, infelizmente, essas cenas são poucas.
O modo multiplayer online é exclusivo da edição para Xbox. Nessa modalidade, até 16 pessoas podem participar de Deathmatches, Team Deathmatches, Capture de Flag e outras partidas menos tradicionais, como o Soul Hunter, que consiste em juntar sangue antes dos outros competidores. Os mapas próprios e os poderes vampirescos fazem do multiplayer de "Darkwatch" algo divertido e diferente dos títulos tradicionais. Como prêmio de consolação, o PlayStation 2 tem um modo cooperativo com tela dividida.
Cada um na sua
Tecnicamente, ambas as versões são virtualmente idênticas, com uma melhor resolução de texturas na edição para Xbox. Ademais, contam com cenários bem construídos, que passam uma impressão de solidez. O efeito é fruto das excelentes texturas, que, mesmo no PlayStation 2 conseguem ser bem convincentes. A taxa de quadros é excelente e estável. Durante o teste de UOL Jogos, não foi detectado um único "slowdown".
Os personagens também brilham em seus papéis. O estilo de design é um pouco caricato, mas funciona muito bem dentro do contexto do game. As mulheres são curvilíneas e sensuais, e grande parte dos inimigos também foge do padrão comum. Até mesmo uma simples caveira tem suas particularidades e os atiradores se parecem com o mascote Eddie da banda Iron Maiden.
Os estampidos e o grito dos oponentes praticamente são toda a trilha sonora, por causa d as cenas de ação sempre intensas. Nos poucos momentos mais calmos, nota-se uma trilha western, quase uma cópia de "Silverado", como nas cenas de galope. As dublagens se resumem a praticamente duas personagens femininas: Cassidy, interpretada com segurança pela veterana dos videogames Jennifer Hale, e a vampira Tala, que tem a voz de Rose McGowan, atriz da série "Charmed".
Iluminação da lua cheia
"Darkwatch" consegue se destacar entre os inúmeros títulos de tiro em primeira pessoa, apesar de não se comparar a novos clássicos como "Doom 3", "Halo 2" ou "Half-Life 2". Primeiro, buscou um tema menos usual, misturando dois mundos interessantes: o western e o vampirismo; depois, tratou de refinar os controles, provando que é possível criar bom manejo sem usar teclado e mouse. Por fim, equilibrou ação e tiro em cenas quase insanas de pura adrenalina. Com certeza, uma ótima estréia da High Moon Studios.
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